O apóstolo Paulo é frequentemente considerado o autor da Carta aos Hebreus devido à semelhança de redação com suas outras cartas. Embora haja algumas divergências sobre a autoria, há fortes indícios de que a carta aos Hebreus tenha sido de fato escrita por Paulo, pois esta carta contém mistérios e revelações profundas do reino dos céus, ensinamentos estes que foram primordialmente ministrados por Paulo em comparação aos outros apóstolos, até mesmo em razão do chamado especial que Paulo recebeu de Jesus.
Os evangelhos escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João são narrativas e relatos dos eventos presenciados por eles. Por outro lado, Paulo não andou com Jesus fisicamente. Seu encontro com Jesus ocorreu somente após a glorificação deste. Quando Jesus estava na terra, pregava, ensinava e realizava milagres. Após sua ressurreição, Jesus fez a oração sacerdotal, pedindo ao Pai para ser glorificado novamente com a glória que tinha antes da criação do mundo. Após aparecer a Maria Madalena e aos discípulos, entregando-lhes as chaves do reino dos céus, Jesus retornou ao Pai em uma ascensão testemunhada por muitos. Quando Jesus voltou ao Pai, ele reassumiu sua forma glorificada, com olhos como chama de fogo, pés como bronze polido, voz como muitas águas e uma luz mais resplandecente que o sol. João, que viveu e conviveu com Jesus durante seu ministério, teve uma visão dessa forma glorificada de Jesus na ilha de Patmos, e essa visão o deixou atônito (Apocalipse 1:9-20).
Essa foi a visão que Paulo teve quando encontrou Jesus na estrada de Damasco, enquanto estava na sua cruzada contra os cristãos, de posse ainda de cartas que lhe davam autoridade para prender os seguidores de cristo. Naquela época, seu nome era Saulo. Ele relatou esse encontro enquanto fazia a sua defesa perante reis e tribunais. Ao se defender perante o rei Agripa, em Atos 26:13-18, Paulo mencionou sua experiência na estrada de Damasco, descrevendo uma luz resplandecente mais forte que o sol e uma voz que o questionou sobre sua perseguição aos cristãos. Ele reconheceu Jesus como aquele que o chamou para ser ministro e conduzir pessoas das trevas para a luz e do poder de Satanás para o poder de Deus. Perceba que o chamado de Paulo foi especial: conduzir pessoas das trevas para a luz, não foi igual ao chamado de Pedro, ser pescador de homens, nem foi como o chamado dos demais discípulos mencionado no final do evangelho de Marcos, ou seja, irem pelo mundo pregando o evangelho a todas as criaturas. O chamado de Saulo de Tarso, que naquele momento se tornava Paulo, foi outro. Jesus lhe disse: "levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim."
Ele foi chamado para libertar pessoas do mundo das trevas e levá-las ao reino da luz. Isso resultou em revelações profundas sobre o mundo espiritual, como descrito na Carta aos Efésios, onde Paulo aborda principados, potestades, dominadores do mundo tenebroso e forças espirituais da maldade nas regiões celestiais. Ele também menciona a batalha espiritual que não é contra seres humanos, mas contra seres espirituais malignos. É o único apóstolo a tratar das coisas espirituais desta forma, demonstrando profundo conhecimento nestes assuntos. No Antigo Testamento, também encontramos referências a principados, como o caso de Daniel ao jejuar às margens do rio Tigre. No entanto, é por meio de Paulo que obtemos uma compreensão mais profunda desses assuntos espirituais.
O chamado de Paulo de Tarso foi marcado por coragem, dedicação e uma paixão ardente pelo evangelho. Ele se tornou um dos pilares do cristianismo primitivo e deixou um legado duradouro por meio de seus escritos inspirados. Sua história nos lembra da transformação poderosa que pode ocorrer quando somos encontrados por Jesus e o seu chamado é uma prova de que há um combate a ser guerreado, e este combate não é contra a carne.